A pandemia do Covid 19 impôs, como bem sentimos, restrições severas que tem condicionado o nosso modo de vida. Na verdade, no imediato, o nosso primeiro objectivo é travar a sua propagação.
Os efeitos na economia, nos trabalhadores e nas empresas são de facto colossais.
Porém, é já evidente que, apesar da muita propalada solidariedade, as medidas que são tomadas afectam de forma muito mais contundente os trabalhadores e os cidadãos com menores recursos. Afectam já mas o que se projecta no futuro imediato são mais medidas de austeridade que propagarão o “vírus” do empobrecimento sobre os suspeitos do costume.
Não falando por agora na forma errática e egoísta como a União Europeia se está a posicionar, no nosso país o que se perspectiva não é melhor.
António Costa considerou, e bem, como “repugnantes” as palavras dum ministro holandês. A EU está engonhar como sempre tem feito quando se trata de tomar medidas solidárias próprias de uma União.
Por cá, mesmo considerando globalmente positiva a acção do governo, as medidas tomadas atingem os trabalhadores e as pequenas e médias empresas. Os salários são cortados, os despedimentos são em catadupa, os sacrifícios não são proporcionalmente distribuídos.
Para os trabalhadores e para a generalidade dos cidadãos não há hesitações enquanto para grandes grupos financeiros e económicos todo o cuidado é pouco.
Sem dúvida que é muito importante considerar “repugnante” a falta de solidariedade da EU. É reconfortante constatar como as palavras do nosso Primeiro-ministro tiveram ampla repercussão na Europa e mereceram os agradecimentos do rei Felipe de Espanha. E quanto a compromissos para medidas concretas para defender os trabalhadores e os mais desfavorecidos?
Veja-se o caso da Banca. Os cidadãos contribuintes já gastaram mais de vinte mil milhões de euros para salvar bancos da corrupta, incompetente e dolosa gestão levada a cabo pelos seus gestores e banqueiros. Natural seria que agora, mais do que nunca, esta mesma Banca que está a dar milhões de lucros, à custa do pagamento exorbitante de todo o tipo de comissões bancárias, dispusesse deles para combater a crise.
Que medidas estão previstas para tal? ZERO.
No parlamento Rui Rio fala da necessidade da Banca ser contida nos lucros e não distribuir dividendos pelos seus accionistas nos próximos dois anos. Marcelo Rebelo de Sousa vai reunir com os banqueiros e faz apelos patéticos, juntamente com António Costa, para que estes tenham em conta a situação actual e sejam comedidos e responsáveis.
Apelam ainda que este ano não sejam distribuídos dividendos pelos seus accionistas.
E quanto a medidas concretas para evitar isto? ZERO
Os dividendos podem não ser distribuídos este ano. Talvez fiquem num qualquer saco azul para num futuro próximo serem distribuídos.
Num momento ímpar em que vivemos, como é dito, são precisas medidas de excepção. Então por que é que o Estado não cativa os muito milhões de euros de dividendos destinados aos accionistas da Banca e os utiliza para combater a crise do Covid 19? . Por que é que não toma medidas para garantir todos estes muito milhões de euros em dividendos para relançar a economia pós-crise e defender os postos de trabalho e os salários?
Como se vê há todo um mundo que separa as palavras que certos políticos e comentadores pronunciam das medidas que no concreto se tomam ou não.
Para os trabalhadores e para a generalidade dos cidadãos as medidas são objectivas, concretas e os sacrifícios impostos. Para a Banca são palavras de sensibilização e apelos à sua suposta responsabilidade social.
Na verdade, há falas e falinhas e como diz um ditado popular “Com papas e bolos se enganam os tolos”. Acontece, que não somos todos tolos.