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69 Um número curioso

Passados 17 anos o 69 volta a estar na baila, se é que alguma vez deixou de estar, curioso número que um estudo encomendado pela fundação dos donos do Pingo Doce sugere como sendo a idade para que actualmente se pudesse aceder à reforma ou aposentação.

Os argumentos são os de sempre. Garantir a sustentabilidade da segurança social, o futuro dos pagamentos das pensões de reforma. Para tal seria ainda necessário cortar o seu valor, alterar o actual regime público das pensões de reforma /aposentação entregando aos privados a gestão dos fundos de pensões.

caricatura de duas figuras humanas desenhando o número 69

Como se vê a receita é antiga, estafada e não traz nada de novo a não ser, de facto, o 69 para a qual de imediato devia subir a idade de reforma.

Em períodos pré-eleitorais este tipo de propostas, ideologicamente bem marcantes, sempre aparecem para pressionar os eleitores e tentar levar por diante políticas que beneficiem os interesses financeiros e especulativos das grandes seguradoras e da banca.

São conhecidos vários exemplos por esse mundo fora como os fundos privados de pensões especularam com as poupanças e os descontos de toda uma vida dos reformados, acabaram por falir e deixaram na miséria milhões de pessoas.
É verdade que a Segurança Social tem que encontrar novos mecanismos de financiamento. Mas estes são já conhecidos e passam, entre outras medidas, por aumentar significativamente o emprego e os salários, tributar as empresas pelo valor acrescentado tendo em conta a introdução de novas tecnologias que reduzem o número de trabalhadores com ganhos de eficiência, de produtividade e aumento da riqueza produzida. Tentar sucessivamente aumentar a idade de reforma, prolongando a vida activa até à morte terá um feito contraproducente no emprego dos mais jovens que assim serão impedidos de entrar no mercado de trabalho.

“De acordo com a Oxfam, ao longo de 2018, a riqueza dos mais ricos aumentou 12%, mas a dos mais pobres caiu 11%, alargando o fosso entre ricos e pobres.” Ainda de acordo com este estudo “O fosso entre os mais ricos e os mais pobres aumenta cada vez mais. Em 2018, os 26 mais ricos do mundo tinham em seu poder tantos recursos como os 3,8 mil milhões de pessoas que fazem parte da metade mais pobre da população mundial” (jornal Público de 21/Jan/2019)

Daqui se infere que em vez de continuarem a insistir em políticas restritivas com precariedade laboral, cortes sobre os salários, as reformas e sobre o estado social, o que  será necessário são novas políticas que consagrem uma maior justiça social e uma mais justa e equitativa distribuição da riqueza produzida.

Quanto ao 69 deixemos estar como está. “Um curioso número” que não fará mal a ninguém.

originalmente publicado em "O Navio de Espelhos"