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As costas largas de Deus

Em “O Nome da Rosa”, romance do escritor italiano Umberto Eco, num dos diálogos entre o frade franciscano Guilherme de Baskerville e o noviço que o acompanha Adso de Melk, o primeiro diz a este que deve fugir daqueles que para salvar a sua alma são capazes de o matar.

Desde sempre que para melhor manipularem o povo, o submeterem e o explorarem diversos tiranos e intrujões políticos se socorrem do nome de Deus para levarem por diante os seus intentos.

Tendo consciência de que por si só não conseguem ganhar a confiança dos povos para as políticas de agressão, exploração que conduzem contra os mais pobres e necessitados em favor das elites mais ricas e dominantes escondem-se atrás de Deus e do efeito poderoso que a sua invocação tem junto de milhões de crentes e de deserdados da sociedade.

Em quase todas as religiões – islâmicas, cristãs, judaica, entre outras – correntes fanatizadas pretendem impor, se necessário pela força, a sua “verdade” como única e redentora.

Foi assim com a Inquisição, as Cruzadas ou actualmente com a Jihad Islâmica.

Líderes actuais do género de Trump ou Bolsonaro usam e abusam do nome de Deus para justificarem as perseguições a minorias étnicas, a homofobia, o racismo, a misoginia e as políticas de exploração com que pretendem submeter os trabalhadores favorecendo os grandes grupos económicos do comércio, da finança, da banca e da indústria.

Dizem-se muito religiosos, tementes a Deus mas pregam o ódio e de forma cobarde arvoram-se em seus porta-vozes endossando-Lhe as responsabilidades de todas as patifarias que cometem.

Daí que Bolsonaro não se coíba, fazendo tábua rasa do segundo mandamento bíblico – “Não invocar o nome de Deus em vão” – de se alcandorar a parceiro Dele proclamando que a sua vitória prova que Deus está cima de todos. Deus tem as costas largas a quem, Bolsonaro sabe, ninguém pede contas.

 

Foto – O nascer da Terra – NASA

publicado em O Navio de Espelhos

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