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Por trás das flores

ramo de rosas vermelhas

O dia 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, tem as suas origens no final do século XIX inspirado pelas lutas das mulheres por melhores condições de vida, de trabalho, contra a discriminação e pelos direitos cívicos como o direito de voto.

De então para cá muito foi conquistado, muito se alterou, mas também muito permaneceu quer de forma clara e ostensiva, quer de forma escondida, dissimulada perpetuando uma relação de poder e de domínio do homem sobre a mulher em diversas sociedades e culturas.

O Dia Internacional da Mulher pretende afirmar o primado da igualdade de género, a condenação de todas as formas de discriminação. Em Portugal, como em muito outros países tidos como mais avançados social e politicamente o Dia Internacional da Mulher é assinalado, predominantemente, de forma idílica. São as flores que se oferecem em catadupa às mulheres, propostas de jantares românticos com mais ou menos velas, chocolates e dedicatórias com poemas delicodoces que se oferecem por descargo de consciência para adoçar um dia que faça esquecer a amargura, para muitas e muitas mulheres, de todos os outros dias que se sucedem ano após ano.

 

Em 2019 assinalar o Dia Internacional da Mulher tem que ser muito mais do que isto. É preciso fazer diferente. A tónica tem que ser posta na discriminação, na violência a que estão sujeitas as mulheres, evidenciar as desigualdades de género e exigir o seu fim.

Hoje, assinalar o Dia Internacional da Mulher obriga-nos (mulheres e homens) a denunciar a discriminação salarial existente em função do sexo, a brutalidade trágica da violência doméstica que só nos últimos quinze anos assassinou mais de 500 mulheres, a discriminação das mulheres nos locais de trabalho, o assédio moral e sexual de que são vítimas, situações condenáveis e moralmente inaceitáveis.
Só para dar um exemplo, numa sociedade que tem graves problemas demográficos (mas mesmo que os não tivesse) as mulheres que pretendem engravidar são pressionadas a não o fazer para não porem em causa os seus postos de trabalho, sendo até despedidas ou coagidas a despedirem-se quando levam por diante a gravidez.

É óbvio que tudo isto exige que se tomem medidas políticas que combatam e punam estas situações de forma clara e inequívoca. Porém, este é um problema que resulta de uma herança, um lastro cultural machista e de domínio que continua enraizado na nossa sociedade e que sentenças e considerações sobre violência doméstica como as que juízes como Neto Moura produzem tornam evidentes de forma chocante.

Bem podem Neto de Moura, e outros como ele, a cada 8 de Março, de cada ano, oferecerem flores às mulheres. Estas flores não são mais do que o biombo que esconde atrás de si uma realidade de dominação, de poder, discriminação e violência que há quem queira perpetuar.