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Um voto por uma Europa solidária

Numa excelente entrevista dada ao Jornal Público no passado mês de Janeiro, dia 27, a cientista política Ulrike Guerot fez as afirmações acima transcritas que, do meu ponto de vista, reflectem um dos vários problemas com que a União Europeia se confronta.

No próximo domingo temos eleições para o Parlamento Europeu. O voto de todos quantos sentem que as políticas seguidas pela União Europeia (UE) estão reféns dos grandes interesses financeiros, da banca e dos grupos económicos do comércio internacional só pode ser um voto nas forças políticas que de forma empenhada e coerente procuram políticas alternativas que resgatem os Estados da subordinação a que estão sujeitos.

Combater e extinguir os offshore que mais não servem do que para lavar dinheiro do tráfico de armas, de drogas, de órgãos e seres humanos, para evasão fiscal e assim capturarem receitas que deviam ser dos diferentes estados. São muitos milhões de milhões de euros que são desviados de forma criminosa que deveriam servir para investir no bem-estar dos cidadãos e contribuir para a tão propalada coesão social que, actualmente, foi abandonada e só existe no léxico da UE.

A elisão fiscal é o planeamento que utiliza métodos legais – fruto da promiscuidade entre o poder político e dos negócios – para diminuir o peso da carga tributária, designadamente dos grandes grupos económicos. Recentemente Marisa Matias, deputada do Bloco de Esquerda no PE, afirmou que se estima em 100 mil milhões de euros que todos os anos não são tributados na União Europeia (UE). Um valor que daria para fazer “sete orçamentos anuais”.

Portugal aderiu ao Euro há 20 anos. Nestes 20 anos Portugal e outros países periféricos ficaram mais pobres quando comparados com os países mais ricos. A Alemanha foi o país que mais ganhou com a introdução do Euro cuja arquitectura foi feita à imagem e semelhança do marco alemão criando uma profunda e sistémica distorção causadora de irreparáveis desigualdades.  Cada português perdeu 41 mil euros, de acordo com as contas do Center for European Policy.

Sem alterar radicalmente as políticas seguidas em relação ao Euro não há hipóteses de nos livrarmos do garrote da dívida, de garantir os recursos necessários para investir nos serviços públicos – SNS, Escola Pública, Segurança Social Pública – defender o estado social, as pensões e as reformas.

Por outro lado, são precisas políticas que tenham como preocupação central defender o planeta e o ambiente. Como se diz, muito apropriadamente, “não há plano B para o planeta Terra”.

É a falta destas políticas, a corrida pelo domínio dos maiores recursos petrolíferos, e também hídricos do mundo que têm fomentado guerras, a pobreza, o genocídio e as migrações em massa de muitos milhares seres humanos que fogem ao sofrimento e à miséria.

O crescimento da extrema-direita e do fascismo deve-se exactamente às políticas seguidas pelos partidos dominantes na UE, ao poder financeiro da banca e das grandes corporações internacionais que geram desigualdades, pobreza e um grande descontentamento popular.

A extrema-direita e o fascismo não se combatem, por exemplo, com a soma aritmética dos deputados do partido de Macron com a dos partidos sociais-democratas e socialistas no Parlamento Europeu. Mais do que aritmética são precisas políticas que respondam aos anseios da população. Ora, isto é aquilo a que as políticas de Macron não respondem como o demonstra o enorme descontentamento popular em França bem espelhado no movimento “Coletes Amarelos”.

Com o meu voto no próximo domingo procurarei contribuir para abrir um caminho alternativo àquele que tem sido seguido. Um caminho com políticas que respeitem o ambiente, que dignifiquem o trabalho com direitos, defenda o estado social, as pensões de reforma, que punam os desmandos e a corrupção dos grandes grupos financeiros e da banca. Um caminho que com coragem defenda políticas contra o garrote da dívida e do estrangulamento orçamental, proponha a reestruturação do Euro e seja capaz de ser solidária para com todos os que fogem à guerra, à opressão e à pobreza.

O meu voto será em Marisa Matias pois “a Europa será social ou não existirá”.


originalmente publicado em "O Navio de Espelhos"